sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Da modéstia e sua (in)utilidade

Voltando à ação hoje (thanks, Jay!), e já falando sobre um tema no mínimo polêmico: gente modesta. Você conhece alguém que deveria ter mais modéstia?

Segundo o dicionário Larousse mais próximo, modéstia é a qualidade daquele que é modesto, que pensa a seu respeito ou fala de si mesmo sem orgulho. O problema é que, embora à primeira vista isso seja ótimo (e até encorajado), nem sempre é exatamente útil. De maneira geral, o que percebo é que as pessoas têm uma atitude meio generalizada com relação a esse assunto, sem se darem conta de que há um outro lado da questão - como sempre há, afinal, em todas as questões. Vamos a dois exemplos?

Exemplo 1 - Baseado em fatos reais
Na minha época de faculdade, havia uma garota que era o que se pode dizer, uma pessoa popular. Articulada, inteligente, bem relacionada com os professores, comprometida com o estudo e a futura profissão. Não falava de si mesma com falsa modéstia: era boa no que fazia e tinha consciência disso. Até aí, nada de mal, certo?

Nem tanto. Na verdade, ela causava uma certa impressão nas pessoas que beirava o repúdio (nos casos que eu pude verificar, claro). Os comentários de "ah, essa menina se acha!" eram bastante frequentes. A ela faltaria a bendita modéstia?

Exemplo 2 - Para a cultura pop e além
Tenho assistido ultimamente a alguns seriados. Dentre eles, alguns personagens são bem pouco modestos. O dr. Cal Lightman de "Lie to me" e o dr. Gregory House, de "House M.D.", são alguns deles (e os seriados, altamente recomendados!).
O primeiro é o maior especialista do mundo em detecção de mentiras através de microexpressões faciais e outros sinais corporais. O segundo, um médico brilhante, capaz de diagnósticos impossíveis das mais variadas doenças. Ambos brilhantes, não hesitam em contrariar as opiniões alheias e fazer o seu trabalho - sabem que são bons, e vão em frente.
São personagens bastante carismáticos mas que, em suas vidas pessoas, têm sérios problemas em seus relacionamentos com os demais. Seria, além de outros fatores, por sua falta de modéstia?
Um outro personagem digno de nota é Rachel, de Glee. Cantora do coral da escola, é muitas vezes o trunfo do grupo, por causa de seu talento musical. É bem pouco popular, mesmo entre seus colegas do coral. E por quê? Muitas vezes, por faltar a ela a bendita da modéstia. Rachel sabe que é boa, às vezes melhor que alguns colegas do grupo, e faz questão de brigar por seu
espaço quando necessário, mesmo sendo classificada de "chatinha", "arrogante" e afins...

Isso nos traz a um fato: as pessoas tem tendência a lidar com a modéstia como uma característica a ser possuída, quase sagrada, e os que não a demonstram são ímpios que merecem o desprezo. Certo, certo, muitos anos da influência cristã e sua formulação dos Pecados Capitais (absorvidos, por sua vez, da alquimia e de outras ritualísticas *) colocam aí o Orgulho/Soberba/Vaidade
como algo a ser evitado a todo custo; caso contrário, o que o aguarda, amigo, é o Fogo Eterno!

Todos nós conhecemos alguém que "se acha", que nos irrita por querer se elevar acima dos outros em qualquer situação. Aí temos um ótimo caso onde um pouco de modéstia não faria mal algum, pelo contrário. Entretanto, o reconhecimento JUSTO por sua habilidade, ou trabalho bem feito, ou capacidade de realização também é tão necessário quanto. A devida dosagem de conhecimento sobre suas potencialidades e seus defeitos são, em certo sentido, uma estrada (nem sempre agradável ou fácil, concordo) para a evolução pessoal.

Particularmente, gosto muito dos personagens mencionados e, embora não tenha contato próximo à pessoa mencionada, considero positiva algumas de suas atitudes. A todo tempo incorremos no risco de nos deixar levar a um dos dois extremos: de se tornar um cretino prepotente ou um derrotista desacreditado - e nem sempre sabemos dosar isso direito. Geralmente, os extremos não são bons e não nos fazem bem...

Mas tentar não custa e, no fim das contas, um pouco de prática pode nos tornar mais maduros e saudáveis.

Quem sabe um dia não acertamos o ponto?

4 comentários:

Liebe und Rock disse...

Óbvio, que particularmente achei divino o seu texto. Afinal de contas sou fã de todos este seriados e todos estes personagens...
Abordemos o seguinte, será que estas pessoas tão pouco modestas não estriam em nossas vidas a fim de nos impulsionar a melhorar cada dia mais?
Eu, como você sabe, sou um pessoa que procuro sempre melhorar e me superar, meu principal adversário sou eu mesma (sabe, o mundo não me convém, não me importo com ele rsr brincadeira) e por isso corro atrás do prejuízo e pessoas deste tipo (olha a contradição!!!) me impulsionam para melhorar
É isso, adoreiii o post, estou te seguindo....Claro!!!

Lichtgestalt (Jay, pra você)

Wil disse...

Certamente estão aí para nos ensinar algo...

Particularmente acredito que todas as experiências são oportunidades de aprendizado... Mesmo quando não são tão agradáveis quanto gostaríamos! rs

Ponto pra sua teoria!

Thanks a lot ^^

Dr. KATSAWA disse...

Eu aprendi que a frase: "Eu sou o melhor em algo", somente trás azar e maus agouros. A partir do momento que proclamo esta frase, sempre aparece uma pessoa que irá me superar em 1000x neste suposto talento ou tudo vai dar errado ao apresentar meu talento.
A vida me ensinou à força a ser modesto.
Então prefiro sempre dizer que irei tentar fazer meu melhor em algo, não prometendo nada.
Acho que foi daí que surgiu aquela famosa frase: "Quebre a Perna" já que é o pior que pode acontecer ao artista durante sua apresentação, afinal se não formos com muitas expectativas, otimismo exagerado,orgulho e principalmente cobranças internas, tudo poderá acabar dando certo no final.

Wil disse...

Verdade, Katsawa. Além de soar extremamente arrogante, proclamar "eu sou o melhor nisso" acaba atraindo um outro tipo de reação, às vezes velada: competição. Sempre haverá alguém querendo superar "o melhor"...

Por isso o 'fazer o melhor possível dentro das minhas possibilidades' acaba sendo um caminho possível e equilibrado - quando deixamos as cobranças externas, o orgulho exagerado e, talvez mais incômodos que tudo, a cobrança interna e o derrotismo de lado, avançamos muitos passos em direção a um bom final.



"E eu que já não quero mais ser o vencedor, levo a vida devagar pra não faltar amor"
---> O vencedor, Los Hermanos