domingo, 14 de agosto de 2011

Vontade

Olhando pela janela do trem, que segue em alta velocidade, muitos pensamentos me vêm à mente. Talvez sejam, ainda, resquícios da avalanche de sentimentos que me acometeram quando da despedida na estação, há pouco mais de duas horas. Minha família costuma apoiar todas as minhas decisões, mas desta vez as coisas tomaram proporções que ninguém esperava.

Sair daquela cidade, onde passei toda a infância, e ir para outra, tão distante e desconhecida, causava certo mal estar em todos; em mim, inclusive. Espere, talvez "mal estar" não seja expressão exata. Mas a insegurança, acredito, deve ser parte integrante e natural de todo este processo.

Enquanto vejo a noite cair sobre a vegetação que margeia os trilhos e vejo as luzes da cidade, ao longe, se acendendo através da janela do vagão, penso em quanta coragem foi necessária para tomar a decisão. Assim que comuniquei a todos o que eu faria, fiquei me perguntando se não teria sido uma decisão leviana, tomada por impulso. Afinal, embora a perspectiva do que me aguarda (se der tudo certo) seja bastante animadora, as chances das coisas não funcionarem do jeito que espero são grandes. Bem, é evidente que são grandes: muito da nossa vida está à mercê das vicissitudes do que nos cerca. Muito, mas não tudo. Hmmm, ok, pelo menos 50%.

Se metade depende dos desdobramentos do que nos cerca, do que depende a outra metade? Analisando com um pouco de calma, agora eu diria que é da vontade. Nossas escolhas, mesmo que não percebamos seus efeitos imediatos, ou sequer consigamos imaginar possíveis consequências, afetam tudo que acontece em nossa vida. Isso pode ficar infinitamente complexo, se eu adentrar pelos meandros das teorias espiritualistas. Mas o fato é que tudo que nos afeta depende de nossas escolhas, e escolhemos com base em nossa vontade. Vontade, com "V" maiúsculo, no caso.

Minha vontade é crescer, expandir meus limites, conhecer. Eventualmente essa vontade seja o motivo básico de todas as grandes decisões em minha vida. E, se essa noção estiver correta, talvez explique porque as coisas têm funcionado tão bem até agora. A preparação, a escolha da cidade pra onde vou, comunicar a família, comprar passagem. Arrumar as malas. Reservar hotel. Tudo funcionando em sincronia, se encaixando.

Não fosse uma decisão - deixar o que eu conhecia para trás - nada disso estaria acontecendo. Sei que ainda há muito pela frente, muitos desafios; embora eu queira muito, não consigo prever todas as variáveis. Não consigo imaginar o que acontecerá.

Mas vou me apegar ao que tenho. Sabendo onde quero chegar, vou ajustando o curso conforme for caminhando. Rumo a minha Vontade.